quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Levando as ideias para caminhar




Meu universo profissional é dentro de uma sala fechada povoada pelos mais diversos sentimentos expressos na vida de diferentes pessoas. São dores, alegrias, perdas, descobertas, raivas, medos, inseguranças, dúvidas. São ideias do que já foi, do que nunca foram, do que virá... Enquanto trabalho ouvindo todas elas, as minhas ficam encolhidas. Quando tenho intervalos elas querem esticar as pernas, se movimentar, alongar-se e muitas vezes, correm malucas feito gato quando consegue sair de algum lugar estreito em que estava preso.

Para acalmá-las, gosto de caminhar. Minhas ideias precisam de ar puro, tomar sol, olhar o mundo e interagir com a natureza. Caminho devagar porque elas são observadoras. Dialogam entre si, conectando sentimentos aquilo que observam.

Muitas delas se transformam, se transfiguram em palavra. Verdadeiras histórias são construídas enquanto caminho. São delicadas e leves as palavras em minha mente. Muitas voam com a brisa. Outras evaporam, outras, mais ousadas e teimosas, se associam às ideias de outras pessoas. Viram outros textos, em histórias que provavelmente nunca lerei.

Gosto das palavras que voam, livres! Me contento com as fieis, que ficam bailando em minha mente. Admiro aquelas exibicionistas que aceitam ser desenhadas no papel.

Depois posso enfeitá-las, organizá-las para saírem, todas contentes e envaidecidas. Elas não querem holofotes, nem fãs. Querem simplesmente brincar, rir e integrar-se. Desejam construir castelos, pontes, saltar de paraquedas. Querem penetrar na terra, crescer árvores, ver o nascer do sol, ir para o espaço.

Esperam entrar nos sonhos e ser exatamente o que desejam: palavras que iluminam, ampliam horizontes, se cansam, piscam e dormem  em paz.