Meu primeiro texto é uma homenagem a quem me acalantou com sua voz tranquila e seu violão doce: meu pai.
Mapa do Transporte Metropolitano de São Paulo. |
Estavam todos lá, no trem das onze. Esparramados pelo vagão que não estava tão cheio assim, afinal era tarde.
Marina, uma jovem morena com sua saia vermelho-sangue, estava no centro do vagão. Seu rosto estava carregado numa maquiagem pesada. Não tivera tempo de retirá-la após a última apresentação da noite. Certamente seria repreendida pelo marido que não gostava de ver o rosto da esposa pintado.
Ao lado de Marina, estava Madalena. Mada, como era chamada, estava novamente embriagada: wisky com guaraná. Entrou no trem dançando: dois pra lá... dois pra cá. Sentou-se perto da janela para observar a lua girar.
Wilson estava sentado em frente a Marina, admirando sua beleza. Era garçom. Tinha aquele cheiro típico de média e pão com manteiga à beça.
Num canto afastado, quase escondido, estava Paulo com seus fones de ouvido, aparentemente distraído. Era como um Pierrot apaixonado, cantarolando baixinho:"as rosas não falam... exalam o perfume que roubam de ti..."
Maria, ao lado de Paulo, procurava seu marido entre os homens do vagão. Voltava para casa abatida, desencantada da vida.
Camélia era viúva. Encontrou Joana, que estava apaixonada. Conversavam amenidades: "Olá, como vai?" "Eu vou indo e você, tudo bem?" "Quanto tempo..." "Pois é".
No outro extremo do vagão estava Jeca. José Carlos tinha saudades da sua terra. Viera para São Paulo em busca de um futuro melhor mas não esquecia seu passado. De que adiantava viver na cidade se a felicidade não o acompanhava? Tinha saudade do sabiá cantando no jequitibá. A estrada da vida era longa. Fechava os olhos cansados. As vistas iam escurecendo.
Na estação "Largo Treze", entrou João. Tipo valentão, brigão, daqueles que não prestam atenção e nem pensam na vida. Ficou em pé ao lado do malandro que ia para a Lapa. Era daqueles: regular, profissional, com gravata e capital. João olhou para ele e perguntou se sabia o resultado do futebol.
O Arnesto foi quem respondeu: "O Curintian perdeu o jogo". Ele estava arrasado perdera o jogo e o samba, marcado em sua casa. A chuva das últimas horas o impedira de sair do trabalho. Os amigos deviam estar furiosos com a falta de aviso. O celular de Arnesto, vejam só, ficou sem bateria!
E as estações chegavam. E as pessoas partiam.
No vagão restava apenas Carolina. Alheia, com seus olhos tristes. Estava grávida de Mônica e sozinha no mundo. O tempo passava na janela do trem e só Carolina não via.
Adorei o texto cheio de referências sutis e descrições coloridas sobre o mais interessante de todos os assuntos: as pessoas e suas idiossincrasias.
ResponderExcluirParabéns pelo blog! Belo texto!
Adorei o texto cheio de referências sutis e descrições coloridas sobre o mais interessante de todos os assuntos: as pessoas e suas idiossincrasias.
ResponderExcluirParabéns pelo blog! Belo texto!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir