terça-feira, 26 de maio de 2015

E direito por acaso tem dono?

Guerra e Paz, Portinari

Entrou no consultório e deixou o "Bom dia" em casa, entre os papéis esquecidos na gaveta. "Tenho uma consulta agora." A secretária olhou a agenda. "Desculpe porém a consulta não é hoje". Foi como uma fagulha na pólvora. "Mas está marcado na minha agenda. Vocês marcaram errado! Porque eu... Eu não erro nunca!" Depois foi um rol de coisas impublicáveis terminando com: "Eu tenho os MEUS direitos..." E saiu batendo o pé e a porta.

Estava numa loja dessas que vendem de tudo. Dez horas da manhã de uma segunda feira. Quase ninguém na fila e poucos caixas abertos. Uma senhora segurava dois pacotes de balas. Aguardava ser atendida, já bem próxima do caixa. Uma jovem mãe, seu bebê e a avó apareceram com um carrinho cheio. "Me deixem passar porque sou preferencial." E passou na frente da senhora, colocando as compras no caixa. A senhora das balas ficou indignada: "Você não vai passar na minha frente!" A jovem mãe respondeu: " Meu bebê está chorando e eu tenho MEUS direitos. Sou preferencial!" Então começou a discussão que no final estava assim: "Você quer brigar? Vou lá fora chamar meu marido!" E a moça só se calou após sua mãe gritar umas duas ou três vezes. O bebê, no colo da avó, estava quieto só observando.

Foi numa travessa de uma grande avenida que fui surpreendida com uma daquelas cenas onde a buzina funciona como grito de mulher quando vê barata. E como a buzina gritava: estridente e numa constância assustadora! O sinal estava fechado. O barulho não foi suficiente: a dona do carro (desses importados, caros) desceu. Era pequena, mesmo no seu scarpin altíssimo. Vestia um belo tailleur. Foi até o carro imediatamente a sua frente, colocou o dedo no vidro e xingou, esbravejou e falou no tal dos "MEUS direitos". Estava tão alterada que não percebeu que o farol abrira. Levava uma salva de buzinas dos carros que estavam atrás do dela.

E direito por acaso tem dono? Não! Direito não tem dono! Ele não é MEU ou SEU. Ele serve a todos e vivia acompanhado do "bom senso", há muito esquecido pelas pessoas nos dias de hoje. Infelizmente.


domingo, 10 de maio de 2015

O país dos homens scontrosi

Um brinde!


"Neste país, os homens eram todos rabugentos. Nada estava bom para eles. A comida era salgada demais ou não tinha tempero algum. A roupa estava mal passada e sempre tinha manchas. As mulheres falavam demais. Acordavam e reclamavam da escuridão e quando viam o sol, estavam muito atrasados. O trânsito era insuportável e reclamavam do barulho estridente das buzinas dos outros carros. Dirigidos por outros homens. E para protestar, buzinavam também.

No trabalho olhavam feio para cada "bom dia" que recebiam. E quando não recebiam, reclamavam do mau humor alheio. Esqueciam de almoçar e a rabugice alcançava níveis alarmantes!

Quando chegavam em casa, desejavam que suas mulheres não estivessem lá. Assim poderiam tomar banho em paz, sem o habitual rol de como-foi-o-dia-dela-com-todas-as-cores-e-detalhes-em-alta-definição. E se elas não estivessem, reclamariam a falta delas e o excesso de gastos com futilidades como unhas, lojas e compras do mês.

Então elas resolveram se reunir. Não para reclamar, porque estavam cansadas de tantas reclamações mas para rir. Riam daquilo que não compreendiam. Riam do que estava certo e errado. E falavam sem parar, emendando a fala da outra, tecendo uma colcha de retalhos de assuntos sem fim.

E comiam sem culpa, nem desculpa. Brindavam o encontro onde podiam falar sobre tudo, sem olhares de censura. Quando paravam de falar, conversavam em silêncio, se compreendiam e se apoiavam.

Depois de tanta embriaguez de sentimentos, voltavam para seus maridos. Ouviam suas lamúrias. Elas não sentiam o impacto, protegidas umas pelas outras."



É claro que este país não existe! É claro que todos nós, mulheres e homens, temos nossas rabugices. Não se trata de uma característica dos sexos e sim de como encaramos a vida! É hora de brindar "somos humanos" e repensarmos como queremos nos relacionar...