Guerra e Paz, Portinari |
Entrou no consultório e deixou o "Bom dia" em casa, entre os papéis esquecidos na gaveta. "Tenho uma consulta agora." A secretária olhou a agenda. "Desculpe porém a consulta não é hoje". Foi como uma fagulha na pólvora. "Mas está marcado na minha agenda. Vocês marcaram errado! Porque eu... Eu não erro nunca!" Depois foi um rol de coisas impublicáveis terminando com: "Eu tenho os MEUS direitos..." E saiu batendo o pé e a porta.
Estava numa loja dessas que vendem de tudo. Dez horas da manhã de uma segunda feira. Quase ninguém na fila e poucos caixas abertos. Uma senhora segurava dois pacotes de balas. Aguardava ser atendida, já bem próxima do caixa. Uma jovem mãe, seu bebê e a avó apareceram com um carrinho cheio. "Me deixem passar porque sou preferencial." E passou na frente da senhora, colocando as compras no caixa. A senhora das balas ficou indignada: "Você não vai passar na minha frente!" A jovem mãe respondeu: " Meu bebê está chorando e eu tenho MEUS direitos. Sou preferencial!" Então começou a discussão que no final estava assim: "Você quer brigar? Vou lá fora chamar meu marido!" E a moça só se calou após sua mãe gritar umas duas ou três vezes. O bebê, no colo da avó, estava quieto só observando.
Foi numa travessa de uma grande avenida que fui surpreendida com uma daquelas cenas onde a buzina funciona como grito de mulher quando vê barata. E como a buzina gritava: estridente e numa constância assustadora! O sinal estava fechado. O barulho não foi suficiente: a dona do carro (desses importados, caros) desceu. Era pequena, mesmo no seu scarpin altíssimo. Vestia um belo tailleur. Foi até o carro imediatamente a sua frente, colocou o dedo no vidro e xingou, esbravejou e falou no tal dos "MEUS direitos". Estava tão alterada que não percebeu que o farol abrira. Levava uma salva de buzinas dos carros que estavam atrás do dela.
E direito por acaso tem dono? Não! Direito não tem dono! Ele não é MEU ou SEU. Ele serve a todos e vivia acompanhado do "bom senso", há muito esquecido pelas pessoas nos dias de hoje. Infelizmente.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir