Não conseguia enxergar nada. Tinha desistido de nadar e só boiava. Boiava com a esperança que as nuvens dançassem aos pares para poder vislumbrar as estrelas, mesmo sabendo que ao olhá-las provavelmente muitas delas já não existiriam. Mas deixariam um rastro de luz.
Queria uma fonte luminosa, mesmo que fosse apenas um ponto. Porque um ponto é o início de um traço e um traço indício de um caminho.
Fechou os olhos. Quem sabe ainda tinha retida na lembrança alguma imagem de um pouco de calor. O frio que sentia não era normal. Paralisava ao mesmo tempo que fazia tremer. Se tremia, então estava vivo. Se vivo, conseguia ver. Se via, podia deslumbrar-se. Valia a pena enfrentar o pânico de abrir os olhos.
Continuava escuro. Nada mudara no céu. De repente sentiu algo: cócegas nos pés. E aquela corrente gostosa de coceira foi subindo por suas pernas. Queria se mexer, sentir seu corpo vivo. Então podia se movimentar e resolveu mergulhar profundamente numa água com temperatura bem agradável. Foi até um mundo submerso cheio de formas e cores. Nadou entre seres imaginários e cenários deslumbrantes. Quando faltou oxigênio, sabia que precisar voltar a superfície.
Encheu o pulmão de ar e quando estava se preparando para mergulhar novamente, notou que algo estava diferente. Sentia atrás de si uma luz que formava uma sombra. Virou-se mas nada encontrou. De onde vinha a luz? De suas costas. Uma lua brotava em suas costas.
Pela primeira vez em muito tempo desenhou um sorriso. Porque se existia luz, existia sol. Era uma questão de tempo. Era esperar o despertar do dia. Um sol nasceria em seu peito.
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