quarta-feira, 15 de abril de 2015

Eu gosto mesmo é de Gente.

"Gente"


Nos encontramos depois de muitos anos. Prá lá de 15. Não era um problema pois afetos e abraços são, para mim, atemporais. Falamos do ontem, da adolescência, das histórias que a muito tínhamos esquecido. Apesar do passado, celebrávamos o presente. Verdade! O encontro é uma arte ou a arte do encontro. Saí de lá pensando: "como gosto de Gente..." 

Sou psicóloga e muitas vezes fui questionada: "Como você aguenta ouvir o problema dos outros o dia todo?" Nós, psicólogos somos cheios de teorias e técnicas que respondem à questão. Mas acho que a resposta mais honesta e verdadeira é: "Eu gosto mesmo é de Gente". Com "G" maiúsculo, de substantivo próprio!

Foi no final da adolescência que escolhi minha profissão. Me dediquei a um trabalho comunitário onde convivia com crianças. E uma delas foi especial: era brava, batia nos meninos mas tinha o sorriso mais iluminado que me recordo. Descobriu um câncer e lutou muito. Minha última recordação dela foi num hospital. Estava muito frágil e só pude vê-la por uma janelinha. Quando me viu, abriu um sorriso e chorou. Faleceu alguns dias depois. Deixou para mim o amor a vida e a certeza que estava, profissionalmente, no caminho certo.

Gosto de falar com "Gente". Tenho "Gente" paciente, "Gente" família, "Gente" amiga, "Gente" amor. E tenho também "Gente" que vi apenas uma vez. Gosto da ideia de viver daquilo que vê no momento em que está.

Gosto de "Gente" como Jurema, que vi apenas uma vez num breve momento, no trajeto do ônibus percorrendo a Paulista. Ela entrou no ponto em frente ao Conjunto Nacional. Olhou, sentou-se ao meu lado e logo começou a conversar: "Era Jurema, como a marca da ervilha." Tinha, com certeza, mais de setenta. Voltava da casa da filha que adoecera gravemente. Cuidava com amor de mãe, incansável. Se dizia feliz, apesar do momento de sofrimento. Desci antes dela e me despedi com: "foi um imenso prazer te conhecer e desejo melhoras para sua filha..." E ela respondeu: "Obrigada pela conversa. Nunca se esqueça de mim: Jurema, como a ervilha." Nunca me esqueci da Jurema...

Termino essas linhas agradecendo ao Giba, a Lígia, a Paulinha, a Angélica e a tantos outros que são "Gente" em minha vida.

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