Presente da prima Gau
Tenho dois irmãos que amo muito mas sempre senti falta de ter uma irmã. Minha prima mais velha morou alguns meses em minha casa quando veio tentar a vida em São Paulo. Foi o mais perto que cheguei de ter uma irmã. Ela colava bilhetinhos, músicas, notas por todo o quarto. Foi ela que me presenteou com um texto chamado "Instantes". Não se sabe exatamente quem é o autor. É atribuído a Jorge Luis Borges. O importante, de verdade, é a beleza dele.
Ele volta a minha mente em alguns momentos da vida. Quando me pergunto por que ficar em casa arrumando a bagunça que fiz ao tirar tudo do meu guarda roupa, ao invés de assistir o novo documentário do Chico no cinema? Por que comprar presentes quando o que desejo de Natal é a presença das pessoas que mais amo? Por que ficar desesperada rolando na cama numa noite de insônia quando posso abrir a janela para ver a belíssima lua cheia?
Nessa semana ouvi uma história. Era sobre um homem que trabalhou muito, acumulou riqueza e quando se aposentou, resolveu levar a mulher numa viagem pelo mundo. Chegaram até Salvador, quando ela passou mal. Os médicos disseram que era grave e que eles precisavam voltar para São Paulo. Foi diagnosticada com câncer e faleceu. A viagem pelo mundo não ocorreu. Ela poderia ter acontecido em etapas, ao longo da vida deles. Não foi.
Escreveu assim, Daniel Munduruku, um escritor muito querido e admirado:
"Curta o momento, o presente, o agora. O passado é memória que não deve nos fazer sofrer e o futuro, todos sabemos, é um furo no tempo e que por isso deve ser vislumbrado nunca antecipado."
E a bagunça do guarda roupa e que agora ocupa minha cama? Ficará um pouco mais lá. Por um instante. Estou saindo para ir ao cinema assistir o Chico.
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