Manu não sabia dizer não para sua avó. Tal era a alegria que até ficou um pouco contagiada. A peça de teatro não prometia muito. Não sabia o porquê de tanta insistência da avó. Claro! Uma peça baseada em uma canção de Chico Buarque era o suficiente para fazer a avó sorrir. Mas quantas já não foram montadas? "Essa é diferente", dizia a avó.
Era um pequeno teatro, na Augusta. Os atores pouco conhecidos. Manu disfarçava o mau humor e só pensava em sua cama, tamanha cólica que sentia. A avó a observava com o canto dos olhos e sorria.
Não eram as poltronas mais confortáveis e o cheiro leve de mofo fazia Manu espirrar. Na sua frente, duas adolescentes não paravam de rir e falar de um tal de Maurício, irritando Manu ainda mais.
As cortinas se abriram e então tudo modificou. Manu não conseguia se acomodar na poltrona e seu tronco se inclinava para frente, num desejo irracional de subir no palco.
Manu conheceu Maurício no palco. Maurício...bem, não distinguiu Manu na plateia...Ela era mais uma, sem rosto, ofuscada pela luz que ele mesmo irradiava. Manu ansiava pelo momento em que ele sairia pela coxia. E sabia quando ele o faria. Não. Continuava achando a peça medíocre, apesar do Chico.
Não compreendia muito bem o que estava sentindo. Não era fã de nada, nem de ninguém. Detestava idolatrias. Porém, Maurício no palco, provocava e desafiava. Queria saber quem era ele.
Sentiu um leve aperto em suas mãos. Era sua avó anunciando o fim da peça. Manu não ouviu os aplausos, nem se levantou de imediato. Então sua avó sussurrou: "Espere por ele lá fora..."
Manu olhou para a avó, deu-lhe um beijo, um sorriso e criou coragem. Esperou. Quando viu Maurício, ficou paralisada. Ele estava cercado de mulheres. Era o próprio sol com todas as plantas virando em sua direção. A coragem desapareceu.
Ela voltou murcha e sem vida para os braços da avó. Esta lhe deu um sorriso e disse: "Este brilho vai diminuir e quando ele estiver preparado, vocês irão se conhecer." Manu não conseguiu sorrir. Apenas voltou seus olhos tristes para a avó.
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